Por Vinícius Queiroz
Dois desastres ambientais e sociais ocorridos em aproximadamente três anos têm chamado a atenção para um tipo de material e sua forma de disposição: barragens de rejeito de minério de ferro. Os rompimentos das barragens em Mariana (2015) e, mais recentemente, em Brumadinho (2019) trazem à discussão quais seriam as composições dos materiais que atingiram as bacias do Rio Doce e Rio Paraopeba, respectivamente.
Figura 1: Imagens aéreas da região de Bento Rodrigues (Mariana/MG), antes e após o rompimento de uma barragem de rejeitos em 05 de novembro de 2015.
Primeiramente é necessário dizer que os “rejeitos” são assim chamados por se tratarem de materiais não aproveitados economicamente após a explotação e beneficiamento do minério de ferro. Este por sua vez é composto por:
- Minerais de interesse econômico: possuem altos teores de óxido ferro e são representados comumente por hematita e magnetita.
- Minerais de ganga (sem interesse econômico, contaminates): quartzo, filossilicatos, carbonatos de cálcio, óxidos de manganês, entre outros. Suas composições químicas ricas em silício, manganês, alumínio, cálcio, fósforo, entre outros, fazem com que sejam classificados como contaminantes. O quartzo é o mineral de ganga em maior proporção, sendo o principal formador da “areia” comumente existente nas barragens.
Dessa forma, nas minas e usinas que exploram minério de ferro, espera-se que o beneficiamento seja capaz de separar ao máximo os compostos de interesse econômico daqueles tidos como contaminantes. Os contaminantes serão depositados nas barragens de rejeito.
Como o beneficiamento não é um processo com 100% de eficácia, uma parte do minério de ferro acaba não sendo separada dos contaminantes e é depositada nas barragens. Até por esse motivo, faz-se aqui um complemento, sabe-se que algumas barragens de rejeito poderiam até ser reaproveitadas como fonte secundária de minério de ferro, já que em seu interior ainda possuem minerais com teores interessantes do mesmo.
Assim, pode-se afirmar que a maior parte do rejeito de minério de ferro é composta por areia (fortemente enriquecida em quartzo) e por minerais óxidos e hidróxidos de ferro que não foram segregados durante o beneficiamento. Outros componentes em menor proporção seriam os óxidos de manganês, carbonatos de cálcio, minerais ricos em fósforo e alumínio.
A princípio todos esses componentes não são tóxicos à saúde humana quando em contato direto e esporádico (em contato com a pele, por exemplo). Porém ressalta-se que o contato prolongado e principalmente a ingestão de grandes quantidades de água contaminada pelos mesmos pode sim causar alguns malefícios.
Dependendo do contexto geológico-mineralógico no qual a mina se insere, há que se avaliar também através de análises mais detalhadas a presença ou não de outros elementos químicos mais nocivos à saúde como arsênio, chumbo e cádmio. Esses normalmente ocorrem em concentrações bastante inferiores àqueles tidos como de ocorrência majoritária.